segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Rádio Tabajara – há 74 anos presente na vida cultural dos paraibanos

Antiga sede da Rádio Tabajara, demolida na década de 1980

A Paraíba é vanguardista no País na área de comunicação. Aos 2 de fevereiro de 1893 é criado o jornal A União, hoje o terceiro mais antigo em circulação no Brasil. No ano de 1922 o paraibano Epitácio Pessoa, então presidente da República, se tornou o primeiro brasileiro a falar pelo rádio em rede nacional, por ocasião das comemorações do Centenário da Independência. Os equipamentos radiofônicos foram importados dos Estados Unidos e, direto do Rio de Janeiro, na época capital do País, Epitácio dirigiu a palavra ao povo brasileiro, de acordo com relato do historiador e escritor José Octávio de Arruda Mello.

Em 1935 o paraibano Assis Chateaubriand inaugurava a Rádio Tupi, no Rio. Aos 25 de janeiro de 1937, portanto há 74 anos, era inaugurada a Rádio Tabajara AM, 1.110 Kilohertz, em João Pessoa, pelo governador Argemiro de Figueiredo. A emissora é a primeira do Estado e uma das mais antigas do Brasil. A Paraíba também esteve na vanguarda dos meios de comunicação na década de 1940 quando o paraibano de Umbuzeiro, Assis Chateaubriand inaugurou os estúdios da Rádio Tupi, no Rio, em novo endereço. E em 1950 o mesmo Chateaubriand inaugurava a TV Tupi, a primeira televisão do Brasil. Para estes acontecimentos marcou presença a Orquestra Tabajara criada na Paraíba em 1933 por Olegário de Luna Freire e que em 1945 estreou na Rádio Tupi, Rio de Janeiro. Na Tabajara a orquestra liderada pelo maestro Severino Araújo atuou por oito anos.

Origem da Rádio Tabajara - Na década de 1930 um grupo de amigos criou a Rádio Clube da Paraíba, uma emissora artesanal. Mais adiante a rádio se tornaria no embrião da Rádio Tabajara da Paraíba que foi inaugurada com a denominação Rádio Difusora do Estado, Estação de Rádio – PRI-4. Foi criada no dia 25 de janeiro de 1937, apenas dois anos depois da Rádio Nacional ser inaugurada pelo governo federal em 1935.

O primeiro diretor da emissora do governo da Paraíba foi Francisco Sales Cavalcante e oitenta dias após sua inauguração a rádio foi denominada Tabajara. De acordo com o jornalista Nakamura Black, em reportagem de 1992, a rádio teve estúdio provisório no prédio de A União e lá funcionou até 1939, quando ganhou sede própria na rua Rodrigues de Aquino (foto). O prefixo PRI-4 foi substituído por ZYI-689.

Diretores da Tabajara - Nesses 74 anos diversas pessoas assumiram a direção da Rádio Tabajara, entre eles os jornalistas Gilson Souto Maior, Paulo Santos, Biu Ramos, Itamar Cândido, Deodato Borges, Petrônio Souto, Adelton Alves, Levy Soares, Antonio Barreto Neto, Manoel Raposo, Carlos Romero, José Souto, Genésio Sousa, Abelardo Jurema. A radialista Eduarda Santos, atual diretora superintendente, entra para a história da emissora como a primeira mulher a assumir o cargo.

Anos 50 - Quarteto de Italiano de Cordas criado por Rino Visani, o último da esquerda para a direita

Ao longo dessas sete décadas a Tabajara vem registrando a história política, administrativa, econômica, social e sobretudo a trajetória cultural da Paraíba. Grandes nomes integraram o cast de artistas, autores de textos e locutores da emissora ou que se apresentaram em seus programas: Orlando Vasconcelos, Oscar de Castro, Eurípedes Gadelha, José Santa Cruz (que se tornou humorista), Meira Filho (que depois foi locutor de A Hora do Brasil, na Rádio Nacional e posteriormente foi eleito senador da República), Wilson Londres, Pachoal Carrilho, Jacy Cavalcanti, Gilberto Patrício, Polari Filho, Linduarte Noronha, Humbeto Lucena, (locutor nos anos 40).

São outros personagens dessa história: Jackson do Pandeiro, Genival Macedo, Francisco Ramalho, Otacílio Batista, Oliveira de Panelas, Manoel Serafim, Luizinho do Pagode, Sandra Mara, Cilaio Ribeiro, Carlos Romero, Barreto Júnior a cantriz Nelie de Almeida, Cyro Monteiro, Orlando Silva, a Orquestra Tommy Dorsey, Ângela Maria, Luiz Gonzaga, Abelardo Jurema, Ipojuca Pontes, Geraldo Cavalcanti, Jonildo Cavalcanti, Mércia Paiva, Rino Visani, Trio Jaçanã, Bievenido Granda (cantor mexicano), Canhoto da Paraíba, Eclipse, Parrá, Nelson Gonçalves, Dircinha Batista, Irmãs Aciomán, Marlene Freire, Ruy de Assis, Teones Barbosa, Walter Lins, Zé Pequeno, Airton José, Marconi Altamirando, Maestro Nozinho, Braulita Cavalcanti, Penha Maria, Carlos Antonio, Antonio Assunção, Carlos Vasconcelos, Lula Rodrigues, Ernani Norat, Jadir Camargo, Marco Aurélio, Ivan Tomaz, dentre outros nomes.

O maior locutor noticiarista de toda a história da emissora do governo paraibano foi Paulo Rosendo, a voz padrão do Informativo Tabajara. Ele faleceu em abril de 1991. Ingressou na emissora em 1955. Antes do noticiário ele atuou como rádio-ator, participou de várias novelas produzidas na Tabajara. Muitos jornalistas já integraram a equipe de redação da rádio. Na atualidade o mais antigo é Assis Mangueira, há 41 anos em atividade. Outros nomes: Claudete Andrade, Nakamura Black, Juarez Diniz, Josélio Carneiro, Sandra Bárcia, Fernanda Medeiros, Walquiria Andrade, Mariza Paixão, Bruno Cavalcanti, Jaimacy Andrade, Lenilson Guedes, Edmilson Pereira. Alguns desses nomes licenciados ou à disposição de outros órgãos do governo. No esporte: Franco Ferreira, João de Sousa, Eudes Moacir Toscano, Aurélio Nunes, Ivan Bezerra, dentre outros.

No passado os locutores Humberto Lucena, Fernando Milanez, José Santa Cruz e Hayton Santos, falavam inglês, uma exigência da época.  Abelardo Jurema escrevia crônicas no quadro ‘Do Teatro da Guerra’. Os textos eram lidos por Orlando Vasconcelos. Em 1980 Hayton Santos publicou ‘O Rádio Paraibano em Álbum de Recordações’. Germano Barbosa, Ana Paula, Sérgio de Andrade, Odonildo Dantas, Oswaldo Travassos, Paulo Costa, Walter Cartaxo, Hermano Ponce, Costa Filho, Fernando Rodrigues, também atuaram no jornalismo da Tabajara.

No ano de 1985 o governador Wilson Braga, inaugurou a atual sede da Rádio Tabajara, no Corredor Pedro II, bairro da Torre, na capital paraibana. O diretor-presidente era Manoel Raposo. Depois de sair de sua antiga sede própria, na Rodrigues de Aquino, a emissora funcionou por vários anos na avenida João Machado. De lá, se transferiu para a nova sede, a atual.

Em 7 de agosto de 1999 o então governador do Estado, José Maranhão, inaugurava a Tabajara FM 105.5. A solenidade ocorreu na praça do povo do Espaço Cultural e a grande atração foi a Orquestra Tabajara.
Em 1987, o Governo da Paraíba publicou uma revista comemorativa aos 50 anos de fundação da Rádio Tabajara AM, a antiga PRI-4. O professor, historiador e escritor José Octávio de Arruda Melo foi um dos responsáveis pela publicação. No ano de 2002, aos 29 de janeiro, A União publicou o livro “Tabajara, 65 anos, a Rádio da Paraíba”. A coletânea, organizada pelo Jornalista Josélio Carneiro, repórter da emissora, reúne 67 fotografias e 57 textos. O lançamento do livro ocorreu na Rádio Tabajara. O secretário de Comunicação Luiz Augusto Crispim fez o prefácio da obra. O jornalista Genésio Sousa era o diretor-presidente da rádio. Em janeiro de 1998 o jornalista e radialista Josélio Carneiro organizou no Palácio da Redenção e depois na Tabajara, a exposição fotográfica ‘Época de Ouro do Rádio’.

No ano de 1996 dirigia a emissora o jornalista Petrônio Souto e a Tabajara participou da mesa redonda Rádio Tabajara – 60 Anos de Presença na Cultura Paraibana. O debate ocorreu na sede da Associação Paraibana de Imprensa – API – no dia 6 de novembro, dentro da I Semana Paraibana de Arte e Cultura.

Orquestra Tabajara

Orquestra Tabajara na inauguração da Tabajara FM, em 1999. Foto de Marcos Russo

Na revista comemorativa dos 50 anos da Rádio Tabajara o professor José Octávio de Arruda Mello escreveu: não era só a BBC que funcionava como modelo da Rádio Tabajara durante a II guerra mundial – o outro era a Rádio Nacional, de onde se importava o componente lúcido, ou seja, o aspecto recreativo, recrutado a shows, cantores, e orquestras assegurados pelo que se denominava o cast radiofônico da época. É dentro desse quadro que se verificará a criação da “Jazz Orquestra Tabajara”, - tal o seu nome de batismo – claramente derivado da emissora que a acolheu. Sua fundação ocorreu em 1933 por iniciativa de Olegário de Luna Freire, um violinista amante da boa música. Logo para ela seriam recrutados alguns músicos da Polícia Militar do Estado, entre os quais o clarinetista pernambucano Severino Araújo, acompanhado de vários irmãos, entre eles o trompetista Plínio Araújo.

E continua José Octávio: Com esse grupo e mais o saxofonista “Zé Bodega”, constituiu-se o núcleo da Orquestra Tabajara que, a princípio, encantou a Paraíba e, posteriormente, o Brasil. Segundo Armando Nóbrega, o interventor Ruy Carneiro, o boêmio, e seresteiro, o que o impelia para o campo da música, era um verdadeiro aficcionado da Orquestra Tabajara a cujas audições públicas não raro comparecia no auditório da emissora e ainda no Cassino da Lagoa, Clube Cabo Branco e Pavilhão do Chá.

A Orquestra Tabajara é a mais antiga Big Band do Mundo em atividade. Criada em 1933, existe há 78 anos, já realizou cerca de 16 mil apresentações. O maestro Severino Araújo esteve na regência da orquestra de 1937 a 2005. Hoje o pernambucano de Limoeiro está com 94 anos de idade. Seus irmãos comandam a orquestra. Severino nasceu em 23 de abril de 1917.

Nos revelou Severino Araújo em entrevista em João Pessoa no ano de 1996, (reportagem publica em A União no dia 4 de outubro daquela ano), que no carnaval de 1955 a Orquestra Tabajara tocou 40 dias no Paraguay, em Montevidéu. Em 1961 o maestro se seus 21 músicos fizeram o carnaval em Buenos Ayres, capital da Argentina.  A orquestra foi contratada da Rádio e TV Tupy, Rádio Nacional, Rádio Mayrink Veiga, e TV Rio. O chorinho ‘Espinha de Bacalhau’, de autoria de Severino Araújo, faz parte do currículo da Escola de Música de São Paulo e é uma música tocada na Inglaterra, França, Dinamarca, Suíça, Itália, Finlândia, Portugal, Argentina, Estados Unidos, Uruguai, Alemanha, Áustria, Espanha, Holanda, dentre outros países, revelou o maestro, arranjador, compositor e instrumentista Severino Araújo, que estava presente na inaugurada da Rádio Tabajara em 1937. “A Orquestra Tabajara é quem mais faz propaganda da Paraíba no mundo inteiro”, declarou o músico líder da Big Band que surgiu em João Pessoa e conquistou o Brasil e vários países, com Severino e mais quatro irmãos.

Um filho de Severino Araújo é músico da orquestra e outro segue a carreira do pai com a Orquestra Cuba Livre. Da formação inicial a Orquestra Tabajara tem um único paraibano, Geraldo Medeiros. A orquestra estreou no Rio de Janeiro em 1945, na Rádio Tupi. A primeira vez que voltou a João Pessoa, em 1951, Jamelão e Elizeth Cardoso eram os crooners.  Quando Severino Araújo foi para o Rio de Janeiro a Rádio Tabajara contratou o maestro e instrumentista, também pernambucano, Moacir Santos, para assumir o lugar deixado pelo conterrâneo. Anos depois, Moacir Santos também seguiu para o Rio. Fez muito sucesso no Brasil e nos Estados Unidos, onde viveu por vários anos. Moacir faleceu em 18 de julho de 2006, aos 80 anos de idade. Viveu muitos anos nos Estados Unidos.

Jornalista e radialista Josélio Carneiro
Pesquisa e texto – João Pessoa-PB janeiro de 2011

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