terça-feira, 31 de janeiro de 2012

ENCONTRO MARCADO, por Ramalho Leite


Ramalho Leite, atual superintendente de A União, teve programa na
Rádio Tabajara na década de 1960 

Na época em que a telefonia engatinhava por estas bandas e nem se sonhava com a invenção do celular, era através de cartas que os ouvintes participavam dos programas de rádio. Respondendo a um missivista, o governador João Agripino provocou o maior “rebu” no seio da classe médica paraibana e chamou a atenção do público para o programa Encontro Marcado que eu fazia na Tabajara, com direito até a auditório, no antigo prédio da rua da Palmeira.

 O ouvinte indagava do Governador se ele não achava que era muito pouco o salário que o Estado pagava a um médico. Fiz a  pergunta com a carta na mão. JA não me deixou dobrar a carta e em cima da bucha, respondeu:
- É pouco para quem trabalha e muito para quem não faz nada...

Lembro da reação de associações e sindicatos da área de saúde protestando contra essa assertiva do Chefe do Executivo. Naquele tempo o médico fazia que trabalhava e o Estado fazia que pagava, mas ninguém ousava proclamar essa verdade.Quando arranquei isso da boca do Governador, o mundo veio abaixo. Muito parecido com essa história da gestão compartilhada do Hospital de Trauma...

O Governador Agripino foi o primeiro entrevistado do meu programa.Eu  era  redator da Tabajara nomeado por Pedro Gondim. Agripino apertou o cerco às acumulações e fui dos primeiros a pedir exoneração “sob protesto” asseverei na petição dirigida a Antonio Carlos Escorel, Secretário da Administração.

Outra entrevista palpitante e corajosa foi dada ao programa por Dom Helder Câmara, então Arcebispo de Olinda e Recife. A “redentora” de 64 dava os primeiros passos e o prelado já estava caminhando para a lista dos inimigos do regime. Prometeu a mim e a Ivan de Brito que viria e chegou na hora certa, respondendo sem restrições às perguntas dos ouvintes.


O momento político que o País vivia não poderia dar fôlego a um programa aberto às perguntas da sociedade. Duraria pouco, apesar dos esforços do Geraldo Cavalcanti em me ajudar na montagem do programa, presenteando os ouvintes com recursos de  sonoplastia que evitava a monotonia provocada pela sua duração excessiva, a depender do entrevistado.

Essas lembranças da minha vida de radialista vêm a propósito dos 75 da Radio Tabajara, comemorados semana passada. Minha ligação com a emissora,  me fez entusiasta, alguns anos mais tarde, da tarefa hercúlea de Evaldo Gonçalves, trazendo a Orquestra Tabajara para apresentação no Clube Cabo Branco, em evento que marcou os 150 anos do Poder Legislativo. Na ocasião, o maestro Severino Araújo recebeu o titulo de Cidadão Paraibano, (projeto de Evaldo) e dedicou a honraria à Radio Tabajara, que deu nome e fama a sua orquestra.

Essa emissora, hoje dirigida por Duda Santos, tem história para contar. Por sua direção passaram ilustres paraibanos, a exemplo de Linduarte Noronha, que ontem partiu para a cidadela de Aruanda.

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