segunda-feira, 9 de abril de 2012

Parrá - carteiro, compositor, cantor e presepeiro





Carlos Cavalcanti
Repórter - A União

Uma das anedotas populares que envolve o nome de Parrá, um misto de forrozeiro, sambista e presepeiro das antigas, é a seguinte: numa noite calorenta, ele estava caminhando no anel da Lagoa (Parque Solon de Lucena) quando foi abordado por dois “cabras bufando de raiva” de armas em punho. Anunciaram logo o assalto. De olhos bem arregalados, Parrá não perdeu a calma. Com sua voz rouca, foi logo dizendo: “Ôchente, vou morrer de novo. Já morri nessa lagoa, meus camaradas”! Ele conta que os bandidos, assustados, “passaram sebo nas canelas e se danaram numa desabalada carreira. De medo”.
O malemolente (no bom sentido) Severino Ramos de Oliveira, 69 anos, nasceu no bairro do Roger, na Capital. Por essa época andou muito de bonde.Terceiro filho do operário José de Oliveira, e da dona-de-casa, Maria Luiza. Seu irmão Joca foi quem o encaminhou “pras bandas da música”. Começou tocando violão. “Foi aí que me interessei a cantar”, relembra.

Parrá, ao microfone, no Teatro Santa Roza, festa dos 50 anos da Tabajara

Deu início a sua carreira musical aos 16 anos. Sua alcunha bastante popular nas esquinas e bares de João Pessoa – Parrá -, ele considera “um mistério”, mas destaca que “foi o irmão Joca que botou em mim. Não sei explicar porque”, apressa em esclarecer  o cantor e compositor que, de uns anos para cá, tem tido um papel relevante na música paraibana. De suas composições musicais, ele destaca O Fumo de Parrá e Cabo de Vassoura.
Parrá, cujo estilo musical é algo entre Jackson do Pandeiro e o baiano Riachão, se define assim: “Faço e canto forró misturado com um certo malabarismo. Aprendi muita coisa com o Genival Lacerda. Na minha música também tem um gostinho de samba”. Ele diz que “um dia destes foi macaco velho de programas de auditório na época de ouro das rádios no Brasil”. 
- Tive uma grande trajetória em várias emissoras no tempo que rádio era rádio. Cantei nas rádios Poti, Araripe do Crato, Difusora de Pesqueira e fazia parte do cast da rádio Borborema, que era comandada pelo saudoso Hilton Mota”, relata Parrá. “Tive também passagem pelo auditório da rádio Tabajara. Era o tempo de Meves Gama, Teone Barbosa e Jonildo Cavalcanti, Pascoal Carrilho e Gilberto Patrício -
- Tempos recentes, Parrá encerrou as festividades das Festas das Neves cantando junto com a Orquestra de Câmara, na Capital. “Nesta ocasião, o maestro Carlos Anísio me ajudou bastante. É um homem de grande valor musical”, agradece.  
Parrá, que foi entrevistado pela reportagem de A União no balcão da Cachaçaria Fhilipéia, na Capital, ao ser indagado porque sua estrela não brilhou até o momento e porque suas músicas não tocam nas rádios e porque não faz muitos shows por ai. Ou seja, não atingiu o estrelato, dá a seguinte declaração: “Minha estrela vai brilhar quando eu der um polimento nela, mas não me queixo das autoridades. Tive muitas oportunidades. Vieram muitas, mas não levei a sério”.
  O cantor relata ainda: “Uma das oportunidades que tive na vida foi o convite do cantor e sanfoneiro Dominguinhos, que um dia me convidou para subir ao palco e cantar com ele. Recusei porque não estava preparado. Foi num desses São João que ocorreu aqui na Paraíba”, explicou.  Ele conta com umas 20 composições gravadas. 
- Minha música não toca nas rádios porque nos microfones delas proliferam as músicas baianas e o forró de plástico. Eles tomaram os espaços – diz, ainda, Parrá.
Seu último CD, ele gravou com o Livardo Alves. Sobre sua instrução, Parrá diz que conta com o “2º Grau incompleto.

Saiba mais

Severino Ramos de Oliveira é pai de cinco filhos. Todos casados e vivos. Na verdade, Parrá é um carteiro aposentados da Empresa Correios e Telegráfos. Sua vida de mensageiro teve início na década de 50. Como carteiro, declarou ele: “só levei a experiência de andar muito nas ruas. É casado com a dona-de-casa Maria do Carmo. 

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