segunda-feira, 16 de julho de 2012

Severino Araújo e Orquestra Tabajara – Patrimônios Musicais da humanidade




Por: Josélio Carneiro
Especial para A União - edição de domingo 15 de julho 2012
Fotos do arquivo do maestro


A Paraíba e o Brasil têm uma dívida com o pernambucano Severino Araújo, o grande mestre da Orquestra Tabajara. Em nosso estado ele viveu sua infância e vivenciou os primeiros anos de sua vida artística ao lado de seu pai, José Severino Araújo, mestre de bandas de música. Depois o jovem passou a ser músico da Banda de Música da Polícia Militar da Paraíba de onde saiu para a Orquestra Tabajara, contratado pela Rádio Tabajara e logo depois assumiu o comando da orquestra. 

As homenagens à Orquestra e ao maestro genial poderiam vir por meio de um livro, ou um DVD gravado aqui em João Pessoa, com músicas de artistas paraibanos. Seria um marco histórico para a cidade de João Pessoa, terra onde nasceu a orquestra em 1933. “Severino Araújo é um ser iluminado e a Orquestra Tabajara, um bem cultural do povo brasileiro. Severino Araújo e a Orquestra Tabajara, são patrimônios da humanidade”. A declaração é do violonista Sevy Falcão, concluindo texto publicado na série Paraíba – Nomes do Século, produzida em 2000 pela editora A União.  O artigo foi reproduzido no livro Tabajara – 65 anos – a Rádio da Paraíba, uma publicação de A União no ano de 2002. 

            Revela Sevy Falcão que Severino Araújo é parte da geração de instrumentistas e compositores da primeira metade do século XX. O grande maestro está inserido entre Paul Dukas, Edward Elgar, Manuel de Falla, George Gershwin, Agustín Lara, dentre outros. E acrescenta Sevy: “O grande Severino Araújo é parte da música contemporânea brasileira que pontificou com figuras expressivas da estirpe de Lamartine Babo, Eleazar de Carvalho, Radamés Gnattali, Chiquinha Gonzaga, dos paraibanos José Siqueira, Canhoto da  Paraíba, Moacyr Santos, do grande maestro Joaquim Pereira e Sivuca, de Francisco Mignone, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Eduardo Souto, Heitor Villa Lobos, entre outros. Severino Araújo é tecnicamente perfeito. Ele consegue passear por todos os recursos mecânicos, para esgotar todas as possibilidades expressivas do clarinete”, concluiu Sevy Falcão.
O Jornal A União publicou na edição de domingo 15 de julho de 2012 uma síntese da vida e obra do genial maestro, clarinetista, compositor e arranjador Severino Araújo, o grande líder da Orquestra Tabajara. O mestre, autor do chorinho ‘Espinha de Bacalhau’ e outras obras-primas completou no dia 23 de abril passado seus 95 anos de vida, toda ela dedicada à música instrumental de excelente qualidade. A Orquestra Tabajara é a mais antiga do mundo, em atividade, completou este ano 79 anos de fundação. Severino Araújo esteve no comando de 1938 a 2005.
Nascido em Limoeiro-PE, sitio Cedro, no ano de 1917, Severino Araújo de Oliveira é filho de José Severino de Araújo (Mestre Cazuzinha) e de dona Amélia Araújo de Oliveira. Seu pai, autodidata, era regente de bandas de música e compositor. Atuou no município pernambucano de Surubim e nos distritos de Floresta dos Leões e Chã do Rocha, além das cidades paraibanas de Aroeiras e Ingá. O menino cresceu aprendendo as lições do pai e logo tomou gosto pela música. Depois de Severino nasceram os irmãos Manoel, Plínio, José Araújo, Jaime e Otávio.
Com a Orquestra Tabajara Severino Araújo ganhou fama no Brasil, depois viajou pela França, Argentina e Uruguai onde a Big Band se apresentou. A Tabajara é a mais antiga orquestra de bailes do Brasil em atuação e Severino Araújo detém o recorde de regência, assumiu a batuta de 1938 a 2005. Foi regente por longos 67 anos.
O maestro no Twitter - Recentemente o grande nome da música instrumental brasileira e mundial decidiu marcar presença no Twitter, uma oportunidade dos fãs interagirem com o mestre do clarinete e dos arranjos mais perfeitos para orquestras. O Clã Araújo divulgou o twitter de Severino. Anotem aí: @tabajaraujo. Sigam um dos maiores fenômenos da música instrumental dos últimos 70 anos.
Severino Araújo mora no Rio de Janeiro, em Ipanema. Para a ‘cidade maravilhosa’ partiu em meados da década de 1940, quando com a cara e o talento que Deus lhe deu decidiu junto com dois dos cinco irmãos viver da música na então capital do país. O resultado é que em poucos dias os manos começaram a fazer sucesso e daí para a fama não durou muito.
De acordo com o músico e pesquisador Sevy Falcão, em artigo no livro ‘Tabajara – 65 anos – A Rádio da Paraíba’, organizado por Josélio Carneiro, Severino Araújo é cidadão paraibano através de título concedido pela Assembleia Legislativa. A proposição é de 1985, de autoria do então deputado e presidente do Poder Legislativo da Paraíba, Evaldo Gonçalves, a partir de sugestão do pesquisador e compositor Newton Marinho.
            Severino Araújo integrou o cast da Rádio Tabajara de 1937 (ano de inauguração da emissora) até 1944, quando o paraibano de Umbuzeiro, Assis Chateaubriand, então embaixador e dono dos Diários Associados, incentivou-o a seguir para o Rio de Janeiro. Na Rádio Tabajara, além de dirigir a Jazz Tabajara, Severino Araújo também foi programador musical por isso tinha acesso ao grande acervo de discos e partituras com os arranjos das orquestras de Benny Goodman, Tommy Dorsey, Glenn Miller, dentre outras.  Igualmente ao pai, Severino Araújo era autodidata e somente estudou música no Rio, em 1952, com o alemão Hans koelleheuter, as lições duraram três anos. As aulas aconteciam uma vez por semana.
A Orquestra Tabajara fazia o programa na rádio das 20h às 22h30, de segunda a sexta-feira. Depois os músicos sintonizavam as rádios americanas para ouvir as orquestras de jazz. Nos finais de semana haviam os bailes nos Clubes Astreia e Cabo Branco. A orquestra também acompanhava as grandes atrações nacionais que se apresentavam no palco da Rádio Tabajara.
            Nos anos 1940 o Governo da Paraíba construiu o Hotel Instância Termal Brejo das Freiras, município de São João do Rio do Peixe. A Orquestra Tabajara foi enviada para a festa de inauguração do hotel que teve a presença do então governador Ruy Carneiro. O diretor da Rádio Tabajara, nesta época, era Abelardo Jurema.
No Rio de Janeiro os irmãos Araújo foram contratados, no começo, pela Rádio Tupi e pelo Hotel Copacabana Palace.  Depois vieram os contratos com a TV Tupi, Rádio Mayrink Veiga, Rádio Nacional e TV Rio. 1945 – estréia da Orquestra Tabajara na Rádio Tupi. Gravação do primeiro disco em 76 rotações.  Início dos bailes de formatura. 1948 – O cantor da orquestra era Jorge Tavares, que pertenceu ao cast da Rádio Tabajara. Conhecido como o cantor Palmolive, Jorge Tavares imitava Francisco Alves.
Na sequência, alguns registros do maestro e da Orquestra Tabajara. 1951 – A Orquestra Tabajara faz o programa de inauguração da TV Tupi. E os músicos continuaram tocando também na Rádio Tupi. Em dezembro de 51 houve no Rio e depois no Recife  histórico encontro da Orquestra Tabajara com a Orquestra de Tommy Dorsey. Show em Recife e em João Pessoa, pela primeira vez depois de Severino ter deixado a Paraíba em 1944. No Rio, por vários anos, a orquestra realizou bailes no Reveillon na Associação dos Empregados do Comércio.
No ano de 1952, levados por Assis Chateaubriand, Severino e sua orquestra animaram um baile em Paris. Foram trinta dias na França. 1955 – Carnaval de trinta dias em Montevideo, capital do Uruguai. 1955 a 1959 – Severino e Orquestra são contratados da Rádio Mayrink Veiga, do Rio. Foi nessa época que as emissoras dos Diários Associados deixaram de tocar os discos da Orquestra Tabajara, por ciumeira. O Grupo do paraibano Assis Chateaubriand não conseguiu novo contrato para retorno da orquestra e decidiu se vingar dessa forma.
1958 – Surge a orquestra Românticos de Cuba. Uma parceria de Severino Araújo e Nilo Sérgio, um ex-crooner da Tabajara. O nome do maestro não aparecia porque ele era artista exclusivo da gravadora Continental. 1961 – Severino Araújo assina contrato para fazer o carnaval de Buenos Aires, Argentina. Trinta dias de bailes. 1962 – Contrato com a Rádio Nacional.  1964 – Contrato com a TV Rio. 1968 – Após 35 anos de música Severino Araújo resolveu se aposentar. Não assinaria contratos com rádios ou TVs. 1972 – Severino e a Orquestra começam a gravar com cantores. O primeiro foi Martinho da Vila. Depois o disco de Jamelão. Nos anos seguintes até 2005 ele continuou comandando a Orquestra Tabajara. No ano de 1982 volta a gravar. Em 1983 passou a fazer bailes na domingueira do Circo Voador, no Rio.
Origem da Orquestra Tabajara - A orquestra foi fundada na capital paraibana em 1933 pelo maestro e violinista Olegário de Luna Freire e seu amigo saxofonista Oliver Von Shosten, com o nome Jazz Tabajara. Em 1938, um ano após o ingresso de Severino Araújo, o maestro Olegário falece e Severino é convidado e assume a regência daquela que se tornaria, por seu talento e de seus irmãos e demais músicos, uma das mais famosas orquestras de música popular do mundo.
Antes da Orquestra Tabajara Severino Araújo, em 1936, era sargento da Polícia Militar e músico da Banda da PM. Em uma das entrevistas concedidas em João Pessoa à reportagem, no ano de 1996, o maestro revelou que em 1928 passou a tocar clarinete, instrumento que toca até hoje. Antes, tocava saxofone.
A entrevista com Severino Araújo foi gravada na noite do sábado 28 de setembro de 1996, em um restaurante de João Pessoa, antes do baile da Orquestra Tabajara no Clube Cabo Branco. No domingo, 29, a Big Band já estava no Rio de Janeiro em mais um baile, o de número 13.142.  Naquele ano o maestro estava com 76 anos.
Severino falou da origem da Orquestra Tabajara, seu ingresso nela, em 1937, ano de fundação da Rádio Tabajara. Ele participou da inauguração da PRI-4. O maestro fez um relato de sua ida para o Rio de Janeiro, os shows internacionais: 30 dias em Paris, em Montevideo foram 40 dias no carnaval de 1955, em Buenos Aires a temporada foi no ano de 1961.
Livro  -A estimativa é de que a Orquestra Tabajara já foi assistida por mais de 20 milhões de pessoas. Em 2010 o memorialista e escritor Carlos Coraúcci publicou, pela Companhia Editora Nacional, o livro “Orquestra Tabajara de Severino Araújo – a vida musical da eterna big band brasileira”.
Brasil 500 anos  - No ano 2000, por ocasião das comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil, o mestre Severino Araújo lançou pela gravadora CID o CD Basil 500 Anos – Orquestra Tabajara. No repertório músicas de Ary Barroso, Luiz Gongaza,Tom Jobim e Vinícius de Moraes, Roberto Carlos e outros grandes nomes da música popular brasileira.

Um comentário:

  1. Matéria está maravilhosa, parabéns Sr.Josélio!
    Um grande abraço Tânia Araújo

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