Por: Josélio Carneiro
Especial para A União - edição de domingo 15 de julho 2012
Fotos do arquivo do maestro
A Paraíba e o Brasil
têm uma dívida com o pernambucano Severino Araújo, o grande mestre da Orquestra
Tabajara. Em nosso estado ele viveu sua infância e vivenciou os primeiros anos
de sua vida artística ao lado de seu pai, José Severino Araújo, mestre de
bandas de música. Depois o jovem passou a ser músico da Banda de Música da
Polícia Militar da Paraíba de onde saiu para a Orquestra Tabajara, contratado
pela Rádio Tabajara e logo depois assumiu o comando da orquestra.
As homenagens à
Orquestra e ao maestro genial poderiam vir por meio de um livro, ou um DVD
gravado aqui em João
Pessoa, com músicas de artistas paraibanos. Seria um marco
histórico para a cidade de João Pessoa, terra onde nasceu a orquestra em 1933.
“Severino Araújo é um ser iluminado e a Orquestra Tabajara, um bem cultural do
povo brasileiro. Severino Araújo e a Orquestra Tabajara, são patrimônios da
humanidade”. A declaração é do violonista Sevy Falcão, concluindo texto
publicado na série Paraíba – Nomes do Século, produzida em 2000 pela editora A União. O artigo foi reproduzido no livro Tabajara –
65 anos – a Rádio da Paraíba, uma publicação de A União no ano de 2002.
Revela Sevy Falcão que Severino Araújo é parte da geração
de instrumentistas e compositores da primeira metade do século XX. O grande
maestro está inserido entre Paul Dukas, Edward Elgar, Manuel de Falla, George
Gershwin, Agustín Lara, dentre outros. E acrescenta Sevy: “O grande Severino
Araújo é parte da música contemporânea brasileira que pontificou com figuras
expressivas da estirpe de Lamartine Babo, Eleazar de Carvalho, Radamés
Gnattali, Chiquinha Gonzaga, dos paraibanos José Siqueira, Canhoto da Paraíba, Moacyr Santos, do grande maestro
Joaquim Pereira e Sivuca, de Francisco Mignone, Ernesto Nazareth, Pixinguinha,
Eduardo Souto, Heitor Villa Lobos, entre outros. Severino Araújo é tecnicamente
perfeito. Ele consegue passear por todos os recursos mecânicos, para esgotar
todas as possibilidades expressivas do clarinete”, concluiu Sevy Falcão.
O
Jornal A União publicou na edição de
domingo 15 de julho de 2012 uma síntese da vida e obra do genial maestro,
clarinetista, compositor e arranjador Severino Araújo, o grande líder da
Orquestra Tabajara. O mestre, autor do chorinho ‘Espinha de Bacalhau’ e outras
obras-primas completou no dia 23 de abril passado seus 95 anos de vida, toda
ela dedicada à música instrumental de excelente qualidade. A Orquestra Tabajara
é a mais antiga do mundo, em atividade, completou este ano 79 anos de fundação.
Severino Araújo esteve no comando de 1938 a 2005.
Nascido
em Limoeiro-PE, sitio Cedro, no ano de 1917, Severino Araújo de Oliveira é
filho de José Severino de Araújo (Mestre Cazuzinha) e de dona Amélia Araújo de
Oliveira. Seu pai, autodidata, era regente de bandas de música e compositor.
Atuou no município pernambucano de Surubim e nos distritos de Floresta dos
Leões e Chã do Rocha, além das cidades paraibanas de Aroeiras e Ingá. O menino
cresceu aprendendo as lições do pai e logo tomou gosto pela música. Depois de
Severino nasceram os irmãos Manoel, Plínio, José Araújo, Jaime e Otávio.
Com
a Orquestra Tabajara Severino Araújo ganhou fama no Brasil, depois viajou pela
França, Argentina e Uruguai onde a Big Band se apresentou. A Tabajara é a mais
antiga orquestra de bailes do Brasil em atuação e Severino Araújo detém o
recorde de regência, assumiu a batuta de 1938 a 2005. Foi regente por longos 67 anos.
O
maestro no Twitter - Recentemente o grande nome da música instrumental
brasileira e mundial decidiu marcar presença no Twitter, uma oportunidade dos
fãs interagirem com o mestre do clarinete e dos arranjos mais perfeitos para
orquestras. O Clã Araújo divulgou o twitter de Severino. Anotem aí:
@tabajaraujo. Sigam um dos maiores fenômenos da música instrumental dos últimos
70 anos.
Severino
Araújo mora no Rio de Janeiro, em Ipanema. Para a ‘cidade maravilhosa’ partiu em
meados da década de 1940, quando com a cara e o talento que Deus lhe deu
decidiu junto com dois dos cinco irmãos viver da música na então capital do
país. O resultado é que em poucos dias os manos começaram a fazer sucesso e daí
para a fama não durou muito.
De
acordo com o músico e pesquisador Sevy Falcão, em artigo no livro ‘Tabajara –
65 anos – A Rádio da Paraíba’, organizado por Josélio Carneiro, Severino Araújo
é cidadão paraibano através de título concedido pela Assembleia Legislativa. A
proposição é de 1985, de autoria do então deputado e presidente do Poder
Legislativo da Paraíba, Evaldo Gonçalves, a partir de sugestão do pesquisador e
compositor Newton Marinho.
Severino
Araújo integrou o cast da Rádio Tabajara de 1937 (ano de inauguração da
emissora) até 1944, quando o paraibano de Umbuzeiro, Assis Chateaubriand, então
embaixador e dono dos Diários Associados, incentivou-o a seguir para o Rio de
Janeiro. Na Rádio Tabajara, além de dirigir a Jazz Tabajara, Severino Araújo
também foi programador musical por isso tinha acesso ao grande acervo de discos
e partituras com os arranjos das orquestras de Benny Goodman, Tommy Dorsey,
Glenn Miller, dentre outras. Igualmente
ao pai, Severino Araújo era autodidata e somente estudou música no Rio, em
1952, com o alemão Hans koelleheuter, as lições duraram três anos. As aulas
aconteciam uma vez por semana.
A
Orquestra Tabajara fazia o programa na rádio das 20h às 22h30, de segunda a
sexta-feira. Depois os músicos sintonizavam as rádios americanas para ouvir as
orquestras de jazz. Nos finais de semana haviam os bailes nos Clubes Astreia e
Cabo Branco. A orquestra também acompanhava as grandes atrações nacionais que
se apresentavam no palco da Rádio Tabajara.
Nos
anos 1940 o Governo da Paraíba construiu o Hotel Instância Termal Brejo das
Freiras, município de São João do Rio do Peixe. A Orquestra Tabajara foi
enviada para a festa de inauguração do hotel que teve a presença do então
governador Ruy Carneiro. O diretor da Rádio Tabajara, nesta época, era Abelardo
Jurema.
No
Rio de Janeiro os irmãos Araújo foram contratados, no começo, pela Rádio Tupi e
pelo Hotel Copacabana Palace. Depois
vieram os contratos com a TV Tupi, Rádio Mayrink Veiga, Rádio Nacional e TV
Rio. 1945 – estréia da Orquestra Tabajara na Rádio Tupi. Gravação do primeiro
disco em 76 rotações. Início dos bailes
de formatura. 1948 – O cantor da orquestra era Jorge Tavares, que pertenceu ao
cast da Rádio Tabajara. Conhecido como o cantor Palmolive, Jorge Tavares
imitava Francisco Alves.
Na
sequência, alguns registros do maestro e da Orquestra Tabajara. 1951 – A
Orquestra Tabajara faz o programa de inauguração da TV Tupi. E os músicos
continuaram tocando também na Rádio Tupi. Em dezembro de 51 houve no Rio e
depois no Recife histórico encontro da
Orquestra Tabajara com a Orquestra de Tommy Dorsey. Show em Recife e em João Pessoa, pela
primeira vez depois de Severino ter deixado a Paraíba em 1944. No Rio, por
vários anos, a orquestra realizou bailes no Reveillon na Associação dos
Empregados do Comércio.
No
ano de 1952, levados por Assis Chateaubriand, Severino e sua orquestra animaram
um baile em Paris. Foram
trinta dias na França. 1955 – Carnaval de trinta dias em Montevideo, capital do
Uruguai. 1955 a
1959 – Severino e Orquestra são contratados da Rádio Mayrink Veiga, do Rio. Foi
nessa época que as emissoras dos Diários Associados deixaram de tocar os discos
da Orquestra Tabajara, por ciumeira. O Grupo do paraibano Assis Chateaubriand
não conseguiu novo contrato para retorno da orquestra e decidiu se vingar dessa
forma.
1958
– Surge a orquestra Românticos de Cuba. Uma parceria de Severino Araújo e Nilo
Sérgio, um ex-crooner da Tabajara. O nome do maestro não aparecia porque ele
era artista exclusivo da gravadora Continental. 1961 – Severino Araújo assina
contrato para fazer o carnaval de Buenos Aires, Argentina. Trinta dias de
bailes. 1962 – Contrato com a Rádio Nacional.
1964 – Contrato com a TV Rio. 1968 – Após 35 anos de música Severino
Araújo resolveu se aposentar. Não assinaria contratos com rádios ou TVs. 1972 –
Severino e a Orquestra começam a gravar com cantores. O primeiro foi Martinho
da Vila. Depois o disco de Jamelão. Nos anos seguintes até 2005 ele continuou
comandando a Orquestra Tabajara. No ano de 1982 volta a gravar. Em 1983 passou
a fazer bailes na domingueira do Circo Voador, no Rio.
Origem da Orquestra Tabajara
- A orquestra foi fundada na capital paraibana em 1933 pelo maestro e
violinista Olegário de Luna Freire e seu amigo saxofonista Oliver Von Shosten,
com o nome Jazz Tabajara. Em 1938, um ano após o ingresso de Severino Araújo, o
maestro Olegário falece e Severino é convidado e assume a regência daquela que
se tornaria, por seu talento e de seus irmãos e demais músicos, uma das mais
famosas orquestras de música popular do mundo.
Antes
da Orquestra Tabajara Severino Araújo, em 1936, era sargento da Polícia Militar
e músico da Banda da PM. Em uma das entrevistas concedidas em João Pessoa à
reportagem, no ano de 1996, o maestro revelou que em 1928 passou a tocar
clarinete, instrumento que toca até hoje. Antes, tocava saxofone.
A
entrevista com Severino Araújo foi gravada na noite do sábado 28 de setembro de
1996, em um restaurante de João Pessoa, antes do baile da Orquestra Tabajara no
Clube Cabo Branco. No domingo, 29,
a Big Band já estava no Rio de Janeiro em mais um baile,
o de número 13.142. Naquele ano o
maestro estava com 76 anos.
Severino
falou da origem da Orquestra Tabajara, seu ingresso nela, em 1937, ano de
fundação da Rádio Tabajara. Ele participou da inauguração da PRI-4. O maestro
fez um relato de sua ida para o Rio de Janeiro, os shows internacionais: 30
dias em Paris, em Montevideo foram 40 dias no carnaval de 1955, em Buenos Aires a
temporada foi no ano de 1961.
Livro -A estimativa é de que a Orquestra Tabajara
já foi assistida por mais de 20 milhões de pessoas. Em 2010 o memorialista e
escritor Carlos Coraúcci publicou, pela Companhia Editora Nacional, o livro
“Orquestra Tabajara de Severino Araújo – a vida musical da eterna big band
brasileira”.
Brasil 500 anos - No ano 2000, por ocasião das comemorações
dos 500 anos do descobrimento do Brasil, o mestre Severino Araújo lançou pela
gravadora CID o CD Basil 500 Anos – Orquestra Tabajara. No repertório músicas
de Ary Barroso, Luiz Gongaza,Tom Jobim e Vinícius de Moraes, Roberto Carlos e
outros grandes nomes da música popular brasileira.